Luciana Bugni http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br Um olhar esperançoso sobre a geração que está com 30 e poucos anos, recorrendo aos apps de paquera na marra ou tentando salvar o segundo casamento com todas as forças. Sun, 20 Sep 2020 18:53:05 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Cartolouco e os brothers: é muito fácil se tornar cúmplice de um agressor http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/2020/09/20/cartolouco-e-os-brothers-e-muito-facil-se-tornar-cumplice-de-um-agressor/ http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/2020/09/20/cartolouco-e-os-brothers-e-muito-facil-se-tornar-cumplice-de-um-agressor/#respond Sun, 20 Sep 2020 18:37:32 +0000 http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/?p=2043

Quando a gente pensa em um cara que agride mulheres, imagina a foto do elemento fichado pela polícia com cara de mau. Na prática, é bem diferente. O cara abusivo, quando não está agredindo verbal ou fisicamente pessoas frágeis, esta sendo brother de algúem. Muito brother. Sabe o cara que enche seu copo antes  de você perceber que precisava? Que marca a quadra e ainda te dá a carona depois do futebol de madrugada, num dia de semana? Então, ele pode ser abusivo com a namorada. Com você, não. Com você ele é o cara mais legal do mundo.

É claro, todo cara sabe que outros homens podem ser abusivos ou violentos. A questão é que, para os brothers, se faz vista grossa. Eles são legais demais para fazerem algo tão condenável, né? Não, não é.

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Se o homem abusivo tivesse a cara de monstro fichado pela polícia, talvez fosse um pouco mais fácil para as vítimas sair rápido da história e não entrar no ciclo da violência. O ciclo é assim: começa com um ciuminho aqui, uma falta de paciência ali. Entra numa rotina de agressões verbais. Evolui em muitas vezes para brigas extremas que podem culminar em confronto físico.

Acuada, a mulher recua. Muitas vezes esconde as marcas e hematomas dos conhecidos, por vergonha. Evita os amigos e amarga solitária a esperança de que o homem que ama mude. O homem então diz que se arrepende, leva flores, leva o chocolate, se esforça o suficiente para dar o que ela acredita ser o melhor sexo de sua vida. Essa fase é chamada de lua de mel do relacionamento abusivo, e é se agarrando nela que as mulheres ficam ainda mais presas. Ele promete que vai melhorar até o próximo ciuminho ali, falta de paciência aqui: pronto, começa tudo outra vez.

Enquanto isso, esse cara que diz barbaridades, que ofende e que machuca, trata os amigos como irmãos. É o parça que sabe tornar os momentos legais. Sabe ouvir, sabe conversar. Sabe fazer todo mundo se sentir especial. Às vezes é até famoso. Sabe ficar até depois da terceira saideira. Dá carona para sua mãe na volta da feira, leva as compras para ela lá dentro. Esse cara é legal demais! Como alguém pode dizer que um brother desses é violento?

Brother passa pano

O filme do “brother passa pano” passou todinho na minha cabeça quando li a denúncia de um amigo da faculdade de Lucas Strabko, o Cartolouco, ex-repórter da Globo e atual participante de A Fazenda, da Record. Lucas havia agredido a namorada e é confrontado. O amigo fala que não vai tolerar mais essa amizade e Lucas tenta se defender dizendo que isso o machuca muito. O amigo segue acusando: “Já tratava ela mal pra caral** e a gente fazia vista grossa, até te protegia quando as minas dos nossos amigos ficavam te enchendo o saco”.

Fazer vista grossa é um clássico da relação entre homens. Quem é violento não consegue atuar o tempo todo. Sempre escapa uma grosseria ali que constrange todo mundo no churrasco. As mulheres, “minas dos amigos” ficam “enchendo o saco”. Os caras protegem. Sempre foi assim. Até algum deles ter a coragem de romper com esse ciclo e dizer: “Se não não é capaz de ser decente com aquela mulher que nem conheço, não serve para ser meu amigo”.

É muito fácil cair nessa cilada. Amigos homens são tradicionalmente leais. Bros before hos, diz o ditado gringo (a tradução da expressão machista é “amigos antes das vadias”). Como alguém teve coragem de denunciar o repórter esportivo legalzão? Ele só agrediu algumas namoradas, devia estar nervoso e…

Não é falta de sensibilidade. Eles podem até ouvir as amigas agredidas, lamentar o fato e trocer para que elas realmente superem a relação tóxica. Mas na próxima segunda-feira estão lá na quadra de society, depois vem uma cerveja e… esse brother é legal demais mesmo.

O assunto é desconfortável porque todo homem já passou por alguma situação parecida de acobertar abusos e traições de seus amigos. De protegê-lo dos comentários das outras namoradas.

Estou dizendo que as mulheres são santas? Não. Estou dizendo que transformar uma sociedade machista depende muitas vezes do desconforto que dá em escancarar a violência dos caras “legais” que nos cercam.

Por que, caso não esteja bem claro, não dá para ser legal e violento ao mesmo tempo.

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Tem que ser perdoado? O que Biel deveria aprender com Felipe Neto http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/2020/09/17/tem-que-ser-perdoado-o-que-biel-deveria-aprender-com-felipe-neto/ http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/2020/09/17/tem-que-ser-perdoado-o-que-biel-deveria-aprender-com-felipe-neto/#respond Thu, 17 Sep 2020 07:00:39 +0000 http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/?p=2031

Biel era um adolescente quando surgiu a acusação de que ele assediou uma jornalista durante uma entrevista, em 2016. Durante a conversa, gravada, ele a chamou de gostosinha, disse que a “quebraria no meio”, ofereceu selinhos. 

Depois, ao se defender, ele não pediu desculpas. Apenas disse que não entendia porque ela não levou tudo na brincadeira. Gostoso, né? O cara diz o que quer e quem se ofender que entenda que era brincadeira.

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Depois se envolveu em agressão com a então namorada, Duda. Tinha uma pressão para que eles voltassem a namorar, inclusive, mesmo depois dessa treta toda. Aí sim, pediu desculpas pelas confusões do passado e pediu nova chance — até seu contrato com gravadora foi cancelado após os vexames.

Pois bem, 2020. Biel está em A Fazenda. É sua chance de limpar a imagem, ao vivo todo dia para milhões de pessoas. Mas desde que entrou lá, ele chamou atenção por mais do mesmo: baixou a calça de um colega, passou a mão, chamou a ex de louca, entrou em discussão.

Hoje, o público decide se ele fica ou não no programa, sob inúmeros pedidos de defesa de colegas e fãs. Afinal, o cara tem que pagar para sempre pelos seus erros do passado?

Desembargador e juiz na internet

Jojo Todinho, colega fazendeira de Biel, declarou: “Uma coisa é tomar iniciativa das atitudes dele aqui, outra é jogar pedra por coisa do passado dele. Tem até uma frase que a Andressa Urach falou: ‘O passado é lugar de referência, não de permanência’. Você permanece ali se quiser, mas pode tirar daquilo uma mudança. As pessoas têm que evoluir. Na internet, tem muito desembargador e juiz. Eles te julgam e apontam como se nunca tivessem errado”.

Está cheia de razão, a gente tem mesmo é que perdoar erros do passado desde que: 1. quem errou esteja arrependido. 2. quem errou pare de cometer os mesmos erros (desrespeitar as pessoas e xingar a ex entre eles).

Felipe Neto e a fé na maturidade

Felipe Neto é um exemplo bom de como o jovem faz coisa errada na internet, mas pode crescer e mudar. Piada transfóbica e homofóbica era recorrente nos conteúdos antigos do Youtuber. Ele percebeu que estava errado. Pediu desculpas. E mais: combate esse tipo de atitude hoje. Influencia seus milhões de seguidores a fazerem o mesmo defendendo essas causas, que antes ridicularizava. O mesmo vale para os palavrões que ele falava em grande quantidade: abolidos, já que seu público é maioria menor de idade. Expressões de cunho sexual também.

Ele estava errado, tinha atitudes condenáveis. Não que tenha assediado alguém, ou agredido outra pessoa, longe disso. Mas se transformou. E prova isso todos os dias. Curioso que depois dessa transformação Felipe Neto receba mais ataques de mães preocupadas com o o conteúdo que seus filhos estão assistindo. Mas isso é outro assunto.

Talvez não seja o caso de Biel no reality, como foi bem lembrado pelo jornalista Leandro Carneiro aqui: ele tem mais chance de vencer sendo esse bad boy. Uma pena. Atitudes assim podem influenciar outras pessoas a agir como ele. E quem perde é a sociedade — ou seja, a gente mesmo. Evoluir é bom demais.

A gente pode falar mais disso no Instagram.

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Graciele falsa magra: conceito machista prejudica nossa relação com o corpo http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/2020/09/16/graciele-falsa-magra-conceito-machista-ajuda-a-desgracar-nossas-cabecas/ http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/2020/09/16/graciele-falsa-magra-conceito-machista-ajuda-a-desgracar-nossas-cabecas/#respond Wed, 16 Sep 2020 07:00:33 +0000 http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/?p=2025

Reprodução Instagram

Falsa magra tem dois sentidos. Os dois horrorosos.

O primeiro é uma das tantas expressões machistas que surgem em conversa como se fosse elogio. O homem que se dirige a uma mulher dizendo que ela é falsa magra está querendo dizer que ela, apesar de ser magra, é gostosa. Sim, um comportamento de quem compra uma carne no açougue, analisando se ela tem gordura o suficiente para dar sabor ao churrasco. É, nojento.

Mas vai ter comentário aqui embaixo de homens dizendo que eu não sei o que é um elogio. Acontece: sempre que dizemos que um homem está nos ofendendo, eles tentam explicar que a culpa é nossa. É, nojento de novo.

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O segundo é para determinar que, apesar de parecer magra, a mulher tem índices de gordura mais altos do que aparenta. O que não quer dizer que a pessoa não está saudável. Graciele Lacerda fez um post no Instagram ontem usando esse sentido da expressão. Se mede o corpo assim nas academias, mas não tem o teor machista que citei antes, já que é uma expressão usada para homens também. Ela afirma que mudou o jeito de encarar a comida e o resultado se vê na definição dos músculos na coxa e na barriga. Ela diz estar mais feliz agora. Que bom, é ótimo se sentir bem com o próprio corpo. Mas ele não precisa ser um corpo magro ou musculoso. O lance é se sentir bem com o corpo que a gente tem.

Graci diz que reeducou a alimentação, condenou a cultura do diet e mostrou que está satisfeita. Claro, não há nada de errado nas escolhas que faz para si mesma. Acontece que quem vê o post de Graciele dificilmente vai alcançar o corpo que ela conquistou e mostra em seu antes e depois. E mais: mesmo o antes da esposa de Zezé é bem difícil de alcançar — quem tem um corpo daquele?

Redes sociais e a tristeza de ser a gente mesmo

Quem viu o documentário The Social Dilemma, na Netflix, percebe o impacto que essas postagens têm em quem não está no padrão de beleza imposto. Ao ver fotos de antes e depois de mulheres cujo antes já era melhor que nosso agora, temos a sensação de que estamos devendo algo justamente por ter um corpo diferente daquele ali exposto. O que não faz o menor sentido, mas vai explicar isso para o cérebro que está cheio de padrões de beleza inatingíveis impostos há anos.

Sabe quando você coloca o celular em cima da mesa e vai fazer outra coisa, mas fica com uma sensação ruim e não sabe de onde veio? Pode ser um post assim, que passa rápido pelos seus olhos e causa uma frustração. Depois vem outro e vem outro. E você ali, com aquele amargo na boca, como uma menina de de 12 anos que quer ter uma aparência que não terá nunca. É.

Mulheres que têm corpo dentro do padrão têm todo o direito de fazerem seus posts, selfies e o que quiserem, claro. O que a gente precisa é desvincular a forma que o corpo da gente tem (ou que gostaríamos que tivesse) da felicidade.

Falsa magra não devia existir. É ofensivo quando sai da boca de um homem. É uma preocupação desnecessária quando a expressão é usada da maneira que Graci usou.

Falsas expectativas deixam a gente triste sem que percebamos. A gente precisa combater a propagação desse sentimento todos os dias. A felicidade está na saúde do corpo físico, claro. Mas está em muitas outras coisas também. Postagens exaltando corpos perfeitos não são parte delas.

Podemos inclusive falar mais disso lá no Instagram. 

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Internet, por que odeias tanto a Luisa Sonza? http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/2020/09/12/internet-por-que-odeias-tanto-a-luisa-sonza/ http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/2020/09/12/internet-por-que-odeias-tanto-a-luisa-sonza/#respond Sat, 12 Sep 2020 14:14:34 +0000 http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/?p=2016

Galera está on demais e deveria ficar mais off (Reprodução Instagram)

Ser esposa de um homem famoso, rico, querido por todos tem um custo: aos olhos da sociedade julgadora na internet, você não pode querer ser nada mais que isso. Luisa Sonza, seus cabelos loiros, seu corpo perfeito e seu rebolado que chamam a atenção não deveriam querer nada mais na vida além de ser mulher de Whinderson Nunes, um dos youtubers mais influentes do mundo.

Mas, olha só que ousadia: ela quis se separar dele. Se a internet já estava xingando quando ela era casada, porque nenhuma mulher estaria a altura de seu ídolo, imagina o que acontece quando ela decide que não quer mais ficar com esse homem? Ela quer o quê? Ser uma mulher livre? A internet não permite uma coisa dessas. Mulher tem que ser submissa.

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Mas Luísa é livre. Livre ao ponto de, 4 meses depois de seu divórcio, assumir que está namorando outro cara. E pior, esse cara, Vitão, foi amigo do casal. Tem suspeita de traição no ar. O tribunal da internet julgou e condenou. E sentenciou. E incitou muito ódio. Como ela ousa superar o fim do relacionamento e estar com outro antes do ex? Como ela posta fotos com outro homem passando a mão nela? Ela deveria ser para sempre propriedade de Whin, dizem os rancorosos online cada vez que xingam.

É o ódio que nos move?

“Sou movido a ódio e café”, diz um amigo. E você? Tem odiado muita coisa aí? Em tempos atuais, parece que aquilo que odiamos nos une mais do que aquilo que amamos. Basta ver do que você fala mais nos grupos de Whatsapp com seus amigos. Seja sobre o técnico do seu time que você reprova, sobre aquela apresentadora que você detesta — aquilo que odiamos rende mais assunto.

Em 2019, fizemos uma campanha em Universa, que se chama “Por que meu corpo te incomoda?”  A repórter Luiza Souto ficou responsável por ler os comentários gordofóbicos, racistas e preconceituosos de várias formas para os atores que dançavam ao som de xingamentos. No fim, eles viravam para a câmera e perguntavam: Por que meu corpo te incomoda? Luiza passou mal ao ler as frases e nós percebemos claramente que o ódio não faz mal só para quem sofre os ataques. Dizer coisas negativas faz mal também para o machista, o racista, o xenofóbico… Mas por que se continua odiando?

 “Basicamente, nosso cérebro não mudou muito desde a Idade da Pedra. Ele foi essencialmente desenvolvido para quando vivíamos em grupos pequenos, de 150 a 200 pessoas e, para nossa própria proteção, ele induz que vejamos alguém fora do nosso grupo como uma ameaça”, disse Geeta Gandbhir, diretora da série do Discovery Channel “Por que odiamos?”, em entrevista para Nathália Geraldo, em 2019. 

Faz sentido: nosso cérebro das cavernas acha que Whinderson, um amigo querido, sofre ameaça quando a ex se mostra empoderada. E, assim, todos estão em perigo e precisam atacar a moça. Um sentimento absolutamente primitivo e condenável. Tem trechos do documentário aqui, para quem se interessar por entender esse ciclo e sair dele.

Ela estava solteira, ele estava on e você está onde?

Luiza se separou em maio. Maio faz muito tempo. Sabe o que eu achava em maio? Que teria uma grande festa de aniversário, como faço todos os anos, em setembro. Estamos em setembro e eu tenho medo de sair de casa. Tudo bem, eu também achava em maio que a popularidade do Bolsonaro ia pro saco depois da postura negacionista frente à pandemia. Maio realmente faz muito tempo.

Whinderson já avisou que o pai também tá on desde maio. Está certo, está solteiro, pega quem quiser. Nem ele está preocupado com sua ex e está até fazendo piada sobre o assunto. Enquanto isso, a galera desejando coisas realmente ruins para ela…

Que coisa mais cafona esse machismo todo. Deixa a menina namorar, rebolar, fazer o que quiser. O pai tá on e tá de boa, quem odeia deveria ficar mais off. Porque, que eu saiba, ninguém aqui mora em caverna mais.

A gente pode falar de outras coisas no Instagram.

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Luisa&Vitão? Whinderson faz piada e ensina a lidar com dor de cotovelo http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/2020/09/11/luizavitao-whinderson-faz-piada-e-ensina-a-lidar-com-dor-de-cotovelo/ http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/2020/09/11/luizavitao-whinderson-faz-piada-e-ensina-a-lidar-com-dor-de-cotovelo/#respond Fri, 11 Sep 2020 18:56:57 +0000 http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/?p=2011

Reprodução: Instagram

Um triângulo amoroso tem muito mais ângulos do que os conhecidos três que aprendemos nas aulas de geometria do colégio. A internet foi dormir e acordou enlouquecida com a revelação de que Vitão e Luiza Sonza realmente estão juntos. Pelo número de retweets e comentários que estão nas redes desde hoje de manhã, eu nem sei se foi dormir.

O que são uma pandemia, um continente queimando, ou nossas próprias crises pessoais perto das novidades amorosas de Luísa Sonza ou das possíveis reações de Whinderson Nunes? O brasileiro tem prioridades.

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Uma das boas coisas dessa história é ver a reação de Whinderson à história toda. Dores de cotovelo masculinas são, por tradição machista, ocultadas. Ou viram apenas comentários agressivos entre amigos. Whinderson, não. Fez piadas com o assunto quando a história estava bombando na quinta (9). Primeiro retomou esse trocadilho aqui, que agora tem mais que duplos sentidos:

 

 

Perguntou também se no álbum do rapper Matuê tinha sofrência. Marília Mendonça entrou na piada e disse que no dela tinha, sim. Detalhe: a música de Matuê lançada na mesma quinta-feira é a voz de um homem pedindo desculpas por ter feito sexo com a prima do outro. A razão do primeiro é “a bunda dela me fascina”, entre outras coisas impublicáveis. Mas quem sou eu para fazer esse paralelo.

Teve mais: vários seguidores compartilharam a print de uma foto antiga de Luiza e Whinderson em que Vitão, então amigo dos dois, comentava: “meu casal”. Um deles disse que Whin deveria entrar no post dos dois e comentar o mesmo. Seria engraçado, né? A internet numa guerra e o youtuber devolvendo a ironia. Eu ri. Mas ele estabeleceu o limite da piada: “Aí é muita moral”, respondeu.

Ponto para ele de novo. A gente pode rir do que nos magoou ou magoa, sim. Mas tem que dizer até onde pode ir a piada. Sabe o livro da Chapeuzinho Amarelo? Uma obra prima do Chico Buarque ilustrada por Ziraldo. Nele, Chapeuzinho tem tanto medo do lobo que fica falando dele sem parar. Até que a palavra lobo emenda na outra, e o lobo vira bolo. LOBOLOBOLOBOLOBOLO. Não dá nem para lembrar o que estava te incomodando quando você coloca para fora.

Curto o jeito simples e descontraído de Whinderson ser um cara autêntico. Não só eu, ele é um dos youtubers mais influentes do mundo. Acho legal também que Luísa Sonza viva de seu rebolado.

 Vai ver nem precisava fazer o post que ela fez ontem, depois de assumir o namoro. Ela em primeiro plano e uma casa queimando atrás. Ela só assumiu uma relação, não botou fogo no mundo. Como disse uma seguidora: “Senta, bem, toma uma água, está tudo bem”. Não é para tanto. Muito menos para ser atacada como ela está sendo. Estava solteira, está namorando agora, nem o ex está tão bravo quando os fãs.

A gente pode falar mais disso (ou de outras coisas) lá no Instagram.

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Boca Rosa e Fred não têm rótulos na relação. E por que precisariam ter? http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/2020/09/10/boca-rosa-e-fred-nao-tem-rotulos-na-relacao-e-por-que-precisariam-ter/ http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/2020/09/10/boca-rosa-e-fred-nao-tem-rotulos-na-relacao-e-por-que-precisariam-ter/#respond Thu, 10 Sep 2020 07:00:57 +0000 http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/?p=1993  

Imagem: Reprodução/Instagram

Namoro na adolescência, noivado, véu, grinalda, apartamento na planta, um cachorro, um filho, dois gatos, outro filho é ok.

Ir ficando aos trancos e barrancos desde a faculdade, brigar às vezes, viajar junto uma vez, dar um tempo, namorar outras pessoas, se encontrar por acaso, transar empolgadamente, repensar a vida e voltar a ir ficando aos trancos e barrancos é ok também.

Não tem errado quando a gente está falando do relacionamento dos outros. Cada um decide se prefere namoro com bênção dos pais ou relacionamento aberto, ou sem rótulos, ou sem amor. Tudo da lei.

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A discussão apareceu essa semana, quando Bianca Andrade, youtuber e ex-BBB conhecida como Boca Rosa, declarou ter uma relacionamento com o também youtuber Fred, do canal de futebol Desimpedidos. Ela explicou: “Ele tem o mesmo pensamento que eu. A gente não intitula o nosso relacionamento. Ele quer ser pai solo, não quer se casar… nem eu. Ele é meu parceirão, é muito importante para mim, uma das pessoas que eu mais gosto na vida! A gente não tem rótulo, porque estamos tentando entender que formato funciona para a gente. A gente já tentou muitas vezes. O que importa é quando ele está comigo e eu estou com ele e acabou. O resto é vida dele. Ele é livre, faz o que a consciência dele pede, o que ele quer, eu também, mas sempre mantendo um amor”.

Parece mesmo bem resolvido. Às vezes a gente fica mais tempo sofrendo por achar que precisa chamar namoro, quando na verdade precisa só estar junto. E pode também estar sozinha. Tudo certo.

Mas…

Fiquei pensando que nem todo mundo tem a pegada da Youtuber. Na verdade, é difícil segurar o rojão da expectativa nas relações amorosas. Por mais que se queira deixar a pessoa livre, como diz Boca Rosa, rola uma agoniazinha de ficar sozinha. Ela diz “a vida é dele”. Mas quem consegue sustentar isso e colocar a própria individualidade acima da relação – ou dos planos de relação? Deveríamos sempre. A prática é meio diferente.

Fui perguntar para quem viveu isso recentemente.

No Instagram, recebi respostas maravilhosas de seguidoras. Vou colar algumas aqui, para, se você estiver sofrendo encurralada numa relação sem rótulos, printar e ler todo dia antes de dormir.

– Se você lida bem com sua solidão, ok. Se for carente nível grude, sofre.

– É saber que no perrengue e datas comemorativas pode passar sozinha e seguir.

– A gente sabe que não vai para a frente. Só posterga e quebra a cara: não é amor, é cilada.

– É bom enquanto dura. Divertido sem cobrança e termina sem grandes traumas.

– Pesadelo.

– Não tenha esperança de algo sério, pois nunca vai acontecer.

– Foi a pior perda de tempo da minha vida.

Uma delas fez uma análise da diferença entre sem rótulo e andar de mão dada: “seria ótimo se o cara não ficasse com aquela coisa de ‘ai, você está se apegando’. Carinho não é amor”. Eita, que forte.

Em outra conversa, uma seguidora me contou sobre como os homens usam a relação sem nome para fazer o que quiserem – mas isso não inclui ficar sabendo que você ficou com um conhecido dele. Aí fecha o tempo. No mais, ela me disse que percebe que eles usam máximas bonitas como “quem precisa de rótulos?” para transar com quem veem pela frente. Geralmente sem camisinha. Hm, me parece perigoso.

Resumo geral: não se pode questionar uma mulher que venha à público dizer que tem uma relação amorosa sem rótulos e está lidando bem com isso. O que a gente pode questionar é as nossas próprias relações.

Ninguém precisa de rótulos. A gente precisa ser respeitada, ter companhias agradáveis, jantar legal, tomar uns drinques de vez em quando, saber a importância daquela conchinha naquela noite específica e poder ficar sozinha sem cobranças quando bem entender.

O que a gente não precisa é se contentar com migalha. Ainda mais agora, no meio de uma pandemia em que está mais que provado que podemos fazer o pão inteiro em casa — migalha é muito pouco. Solidão é dolorida, mas meia solidão, de alguma forma, dói mais ainda.

E só você pode fazer essa análise – seu copo está meio cheio ou meio vazio? Vale a pena esvaziar de vez e botar outra coisa mais gostosa lá dentro?

A gente pode falar mais disso no Instagram.

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A incrível vida de Neymar num mundo que, na verdade, tinha Covid, sim http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/2020/09/02/a-incrivel-vida-de-neymar-num-mundo-que-na-verdade-tinha-covid-sim/ http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/2020/09/02/a-incrivel-vida-de-neymar-num-mundo-que-na-verdade-tinha-covid-sim/#respond Wed, 02 Sep 2020 15:26:52 +0000 http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/?p=1983

Para onde foi essa galera depois da viagem? E com quem conversou? (Reprodução Instagram)

Semana passada eu estava aqui preocupada com a esbórnia de Anitta e Neymar em Ibizia, na Espanha. Até escrevi um texto cheio de inveja: parecia que eles viviam num mundo sem coronavírus em que eu adoraria viver.

Hoje, constato que o mundo em que eles vivem, mesmo sendo ricos e famosos e parecerem se divertir 100% do tempo, também tem coronavírus. O jornal francês L’Equipe noticiou essa manhã que Neymar testou positivo para Covid-19. Eita. A equipe de Anitta disse que o teste da cantora deu negativo nesse fim de semana. Parece que aquele mundo azul do Instagram na ilha estava bem infectado. Pois é, o vírus não deixa mesmo ninguém se divertir sem cobrar um preço depois.

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Enquanto escrevia o texto na semana passada, mergulhei do universo tiktoker e intagramer de Neymar e Anitta. Me chamou atenção que eles nunca estão de máscara. Eu tentei segurar meu instinto de “patrulheira do contágio” e pensar que eles são ricos, devem estar totalmente testados, não seriam doidos de colocar todo mundo em risco. Mas o que eu percebo com o teste positivo de Neymar? Não estão. Ninguém está. Até a vacina, ninguém estará.

O coronavírus, diferentemente do que a gente quer acreditar, não escolhe idade ou classe social. Não é que sou a patrulheira da quarentena: é o próprio vírus que não poupa quem vacila. Ele está por aí numa patrulha louca, ávido por pegar quem não respeita isolamento, quem sai na rua sem máscara, quem vocês sabem o quê. Ah, você faz tudo isso e não deu nada ainda? Que sorte. Tem muita, muita gente mesmo, que não recebeu a graça da imunidade. É por elas que a gente deve ter o maior cuidado possível.

O grande lance não é Neymar, que segue sendo um atleta (de verdade). O problema é que, para cada pessoa que sai de rolê, existem outras tantas vulneráveis. A gente não sabe de quem Neymar pegou isso, para quem o Neymar passou isso. A gente não sabe para quantas pessoas essas pessoas passaram isso.

Não é sobre ir ou não para a praia. Fazer ou não um churrasco. É sobre tentar ao máximo preservar vidas.

Nada disso me surpreende. Que Neymar se recupere bem rápido. E que a partir de agora passe a reforçar em suas postagens a importância dos cuidados para se prevenir do coronavírus. Tem muita gente nova seguindo o jogador e querendo muito copiar seu comportamento.

Espalhar alegria num mundo fantasioso sem coronavírus é espalhar irresponsabilidade.

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Brasileiro lota praia, mas duvida da praia lotada e culpa imprensa: quê? http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/2020/09/01/brasileiro-lota-praia-mas-duvida-da-praia-lotada-e-culpa-imprensa-que/ http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/2020/09/01/brasileiro-lota-praia-mas-duvida-da-praia-lotada-e-culpa-imprensa-que/#respond Tue, 01 Sep 2020 12:53:45 +0000 http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/?p=1972

Uma galera, hein? (Wilton Júnior – Estadão Conteúdo)

Minha formação (e minha mãe) me impedem de começar esse texto com um palavrão, mas: XXXXX, que saudade de uma praia lotada. O cara do mate vindo, aquela esfiha de carne que passou o dia no sol — me vê logo duas, essa aqui vou deixar no sol para comer mais tarde com areia. O mar que ainda está gelado, a cerveja que já ficou quente. Vai chegar mais gente, não enxergo o celular, não pisa na minha canga, passa protetor no meu ombro?

Podia passar mais uns três parágrafos descrevendo tudo que eu faria num domingo de sol na praia, mas vocês devem saber que está rolando uma pandemia aí fora e que não é muito seguro estar em um lugar quente, lotado e sem máscara — ou você vai me dizer que fica de máscara na praia também?

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Eu sei, eu sei, tem gente que não tem os mesmos pudores que eu em relação a uma doença letal que está ficando a olho nu menos letal, mas continua matando muita gente. Nenhum julgamento, a gente precisa se divertir mesmo. Ok, um pouco de julgamento. Não consigo mais olhar uma praia lotada sem ver uma proliferação gigante daquelas bolinhas cheias de espinhos que a gente entende como a representação gráfica do coronavírus. Mas aí sou eu: tem muita gente que consegue e passa o fim de semana no litoral feliz da vida.

Até aí, nada muito impressionante. Faz meses que o Brasil se divide em grupos: dos privilegiados que podem ficar em casa, dos trabalhadores que são obrigados a sair e enfrentar o vírus em subcondições de transporte público e dos privilegiados que podem ficar em casa, mas não aguentam mais e precisam passar o fim de semana na praia se divertindo sem máscara.

Deve ser por isso que as fotos publicadas pelos grandes jornais no último domingo e segunda irritam tanto. A grande questão é sempre a inveja. Eu queria estar aqui dentro de casa tentando proteger quem eu não conheço da possibilidade de eu ser assintomática? Acho que não. Mas minha mãe me ensinou que eu devo sempre pensar no outro, que isso é civilidade e eu não consigo fazer diferente. Eu não consigo estar sem máscara numa praia pensando “seja o que Deus quiser”. Aí fico incomodada de ver quanta gente consegue. Mas as pessoas precisam se divertir. É complicado mesmo. O que você prefere: sobreviver louca dentro de casa ou talvez adoecer feliz na rua? Pois é.

Eu fico pensando no fotógrafo, sabe. Se tem uma coisa chata do jornalismo, é plantão. Mais chato ainda é plantão em domingo de sol. Mais chato ainda é plantão em domingo de sol num lugar onde está todo mundo se divertindo e você trabalhando. Agora imagina esse cara: de roupa e máscara, equipamento pesado, tem que ir lá para a Ponta da Praia em Santos tirar umas fotos da areia repleta de gente no dia de seu plantão. Confirma: está lotado mesmo.

Volta para a redação. As fotos são publicadas e começam os comentários na internet. As pessoas estão dizendo que estavam lá na praia e não estava lotada daquele jeito. Estão duvidando da vegetação da praia. Estão duvidando dos canais de Santos (se tem uma coisa que não dá para negar que é Santos são os canais que cortam a cidade). Estão duvidando da data da foto. E por fim, estão culpando a imprensa.

Não pode ser verdade. O bonito vai pra praia, se diverte sem máscara, entra em estado de negação total, volta para casa, vê uma foto que mostra o quanto foi perigoso o que fez e PÁ: culpa o veículo que deu a notícia. Gostoso mesmo é ver o Twitter, né? Ver o Instagram da galera que também não está nem aí. Ver alguém dublando a Whitney Houston no TikTok e sair dizendo: nossa, canta muito!

Eu sugiro gastar o tempo analisando mais criticamente outras publicações e duvidar do TikTok, por exemplo, em vez de sair compartilhando dublagem como se fosse verdade. Confiem na imprensa. Andem de máscara.  Evitem aglomerações. E tentem não me irritar.

Vocês podem duvidar de mim no Instagram. Dessa imagem aqui, não dá para duvidar, não.

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A incrível vida de Anitta e Neymar num mundo sem coronavírus http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/2020/08/28/a-incrivel-vida-de-anitta-e-neymar-num-mundo-sem-coronavirus/ http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/2020/08/28/a-incrivel-vida-de-anitta-e-neymar-num-mundo-sem-coronavirus/#respond Fri, 28 Aug 2020 07:00:31 +0000 http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/?p=1961

#neynitta ou #animar: a verdadeira hashtag é a da inveja de quem pode curtir a vida (Reprodução TikTok)

Antes que você, caro leitor, diga que eu tenho inveja, já começo o texto esclarecendo: eu tenho mesmo inveja de Neymar e Anitta. É lógico. Você não tem? Você não queria ser rico, amado, ter sucesso e ser (aparentemente) feliz 100% do tempo? Eu queria.

Mas mais do que isso, eu queria estar num país que respeitou a quarentena e onde, agora, dê para dar umas voltinhas, ver uns amigos. Se divertir. Tipo Neymar e Anitta, que estão na Espanha, em Ibiza. No país, a pandemia segue controlada: a média de mortes foi menor que 5 pessoas no país inteiro por todo junho e julho. Agora, com as férias de verão por lá, ameaça subir. O mundo não está sem coronavírus como sugerem as redes sociais dos famosos, mas há lugares em que dá para fingir com mais tranquilidade.

Eu queria também estar em Ibiza. Vi no Instagram: céu azul, mar idem. Não que eu tenha qualquer fetiche em praias europeias — insisto que no Brasil sabemos muito bem como fazer esse negócio de litoral. Mas vou dizer o quê? Que está legal aqui nesse frio de 8ºC da zona sul de São Paulo trancada em casa há cinco meses e meio? Não está.

Essa malandra…

Anitta ganhou meu coração quando desceu daquela moto cantando Vai, Malandra, sem medo de mostrar celulite e meteu o biquíni de fita isolante. De lá para cá, lançou hit atrás de hit. Brincou com o bumbum e com o que mais tivesse na frente. Parece que segue fazendo o que prometeu na letra: “não vou mais parar, cê vai aguentar”. Está na Europa há semanas, curtindo bastante com amigos, da Croácia para a Itália e agora Espanha. Parece um bom plano.

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Aqui no Brasil, a situação é um pouco diferente. A pandemia segue em altos níveis há cinco meses e não há previsão de  sairmos nas ruas, encontrarmos com vários amigos sem máscara e tudo isso que a gente gostava bastante na antiga vida do longínquo março. Época boa, em que a gente praticamente lambia as pessoas na empolgação, coisa que não é definitivamente recomendável nos dias de hoje.

Anitta sabe disso e defende que o brasileiro siga em casa. Mas a sorte dela é outra, é verdade. Ela pode viajar para um lugar maravilhoso como esse e curtir. Tá errada? Se não estiver colocando ninguém em risco, estiver obedecendo isolamento, segurança etc., não está. Não vou ficar aqui avaliando as atitudes dela no TikTok, nem a proximidade física com amigos (muitos amigos), nem a ausência total de máscara em quase todas as postagens. Faz quase seis meses, a gente cansou até de patrulhar.

O mesmo vale para Neymar. Jogou uma final no domingo, seu time perdeu, mostrou maturidade, cumprimentou a todos, sentiu a derrota, acordou no outro dia, comemorou o aniversário do filho, chamou a mãe do filho de família (enquanto muito jogador de futebol não quer chegar perto da ex que engravidou, ele sempre foi correto e carinhoso com todos). Depois viajou com o filho e amigos e, se tem alguém cuidando dessa criança quando ele for pra night, também parece não estar fazendo errado. Usar máscara seria uma boa — tem muita gente ali olhando e tal. Mas fazer o quê?

A inveja que sinto dos dois é bem conformada. É a mesma que sinto de minha amiga que mora em Fernando de Noronha, ilha que está livre da doença há meses. Ou dos amigos que vivem na Europa, em outros locais em que a pandemia não se mede em mais de mil mortes todos os dias — alguém realmente acha ok fazer uma festa por aqui enquanto esses números estamparem as manchetes? E, claro, não estou dizendo que está fácil para aguém. Afinal, é 2020. E sim, o mundo inteiro deve respeitar isolamento, usar máscara, se cuidar (especialmente se você tiver milhões de seguidores ávidos por copiar tudo o que você faz).

Eu não moro num lugar em que dá para curtir a vida lá fora livremente, trocando perdigotos em um microfone compartilhado sem máscara. Uma pena. Tenho certa aptidão para esse negócio de contato físico. Por aqui, as amizades coloridas amargam o preto e branco da espera.

Tudo o que podemos fazer é invejar Anitta e Neymar vivendo uma vida de sonhos, muito distante desse nosso agosto. Já era distante naquele março saudoso mas, bem… ali pelo menos dava para fingir que a gente se divertia igual a eles.

Nessa sexta (28) a cantora assiste o lançamento da música nova do produtor musical Papatinho, “Tá com papato”. Ela, Bin e Dfideliz participam — ela gravou o clipe antes de embarcar nessa viagem. A noite deve ser animada em uma certa ilha do Mediterrâneo. Lá, as amizades são coloridas mesmo, com fundo azul e corpos dourados.

Espero que eles estejam tomando cuidado para poderem sair dessas belas férias sem passar para os outros um vírus letal a cada vez que respiram. Coragem eu tenho, ginga até que tenho alguma:  o que eu não tenho é sorte.

Você pode discordar de mim no Instagram.

 

 

@anittaSó quem tem a ginga

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Xênia falou primeiro de sexo e machismo na TV e merece despedida de estrela http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/2020/08/24/xenia-falou-primeiro-de-sexo-e-machismo-na-tv-e-merece-despedida-de-estrela/ http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/2020/08/24/xenia-falou-primeiro-de-sexo-e-machismo-na-tv-e-merece-despedida-de-estrela/#respond Mon, 24 Aug 2020 21:32:39 +0000 http://lucianabugni.blogosfera.uol.com.br/?p=1952

Em capa de revista de 1980: um braço de ferro com Lula. Xênia sempre foi uma fortaleza (Reprodução Instagram)

Recebi uma mensagem essa tarde que gelou minha espinha. “Você leu sobre a Xênia?” Eu já sabia que isso poderia acontecer. Minha amiga Xênia Bier tinha 85 anos e um dia eu saberia da morte dela pelos portais de notícias. Aconteceu hoje e uma profunda tristeza tomou conta de mim. Tristeza porque uma mulher tão à frente do seu tempo se vai em tempos em que estamos caminhando para trás. E tristeza por mim, que perco sua visão inteligente da vida.

Fiquei pensando na última conversa, em fevereiro. Eu estava arrumando umas gavetas e decidi reformar uma túnica que ela me deu certa vez. Era uma roupa que ela usava na TV Bandeirantes e adorava e quis me presentear porque “sabia que eu ia valorizar”. Realmente o tecido é lindo, mas ficou meio largo. Liguei para pedir autorização para mandar para a costureira. Ela deixou rindo: “Faz o que quiser com esse pano velho”.

Tive contato próximo com ela desde 2011, quando virei editora da revista AnaMaria, de onde ela era colunista. Sem acesso nem interesse pela internet, Xênia passava a coluna por telefone, ditando o conteúdo toda semana. Uma conversa que poderia durar 10 minutos, mas sempre durava uma hora, uma hora e meia, tamanha a quantidade de insights, de referências e de histórias que ela trazia. E generosidade: precisava uma pessoa que viveu tanto, que sabia tanto, querer saber minha opinião? Xênia queria saber. Respeitava o que os mais novos diziam. E às vezes ria com deboche quando eu discordava: “Você vai ficar mais velha e perceber que estou certa”. É, acontece mesmo. Xênia já tinha entrevistado meio mundo e parecia fazer isso a cada conversa.

Na última vez em que nos vimos pessoalmente, passamos um domingo em seu apartamento nos Jardins comendo bolo. Mencionei que estava lendo um livro muito longo, de mil páginas. Ela já tinha lido, claro. Muito culta, leitora voraz, ela ligava certas tardes na redação de AnaMaria para comentar o editorial da Folha. Para dizer que estava preocupada com os rumos no país. Para trocar ideias sobre a criação de adolescentes: “Como pode aquela criança que nos ama tanto virar um jovem que nos despreza?”, perguntava intrigada. Ou para falar de novela, assunto que dominava muito bem. Foi a jornalista Lidice Ba quem levou Xênia para AnaMaria. “Entrevistá-la é uma aventura mental, dá sempre impressão de saber menos, muito menos que ela”, dizia Lidice, redatora-chefe da revista por oito anos. É verdade.

Hoje, quando um repórter me ligou para saber como era trabalhar com Xênia eu tive um clique: quanto do olhar crítico que uso hoje no meu trabalho como colunista eu não aprendi com ela? Nesses anos todos, em tantas conversas, quanto de sua experiência eu não tomei emprestado? Queria contar isso para minha amiga hoje. Ela concordaria sem falsa modéstia e diria “realmente sei umas coisinhas…”

Quando pessoas idosas morrem, a gente tende a não ficar tão triste quanto se alguém morre “antes da hora”. No réveillon de 2019, liguei para ela para fazermos nosso balanço anual e ela disse que desse ano não passava. Eu ri: ela vinha dizendo isso desde que fez 80 anos. Eu já dizia que não adiantava ela achar, quem decidia não era ela. “Realmente, o cara lá não quer me levar ainda”, ria.

O tipo de humor era esse aqui, de uma coluna de 2017: “Não faz cara feia, não, leitora. Afirmo: o maior castigo do ser humano é a velhice. E se algum cretino vier pra perto de mim com aquela coisa ridícula de a melhor idade, sento-lhe a bengala na cabeça!” Quem resiste?

Não foi em 2019 que resolveram levá-la, foi em 2020. Uma pena. Xênia merecia um velório de estrela de TV. Uma mulher que defendia a mulher quando isso estava longe de estar na moda. Que peitou o racismo, que casou com negro, que peitou o machismo, que foi falar de sexo na TV. A coragem de falar o que pensa não rendia só amizades. Foi fechando o cerco para poucos, pouquíssimos amigos. Até que hoje essa voz forte cheia de verdades se vai numa cerimônia íntima de cremação. Triste demais. Ana Bardella, repórter de Universa e minha colega na AnaMaria sente a dor e me diz: “Gostaria de te dar um abraço”. Nossa, que ano é esse que nos tira até esse direito?

Xênia não gostava de fotos. Acostumada com os holofotes, achava que para posar, precisaria de uma produção. Em AnaMaria, ficamos por anos com uma foto bem antiga dela na coluna. Então pouca gente a viu com os cabelos brancos e a cara de vovó rabugenta. Mas ela pegava meu filho no colo e olhava encantada a criança se rasgar de rir. Até penso em usar a foto desse momento para ilustrar esse texto. Melhor não, reflito. Vamos de Xênia produzida e linda, para que ela fique na história exatamente como gostava: uma incrível estrela da TV.

A gente pode falar mais disso no Instagram.

PS: Lembrei de quando Xênia me contava histórias de São Paulo nos anos 50, quando era jovem. Ela dizia que a Paulista era repleta de ipês e que as flores cobriam a calçada. E que as pessoas andavam com cautela para não pisar nas flores. Assim eu imagino sua passagem, minha amiga. Com um caminho cheio de flores.

PS2: Olha o que ela dizia sobre as hipocrisias da religião lá na década de 80. Tão atual que ficará eterna.

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