Racismo contra motoboy: o brasileiro ficou ainda mais ignorante?
Percorro as notícias rapidamente. O desembargador Eduardo Almeida Prado foi fotografado de novo na orla de Santos. Desta vez, a máscara estava pendurada no pescoço. O conceito lembra os meninos do meu bairro na adolescência: de moto, ao serem parados por policiais, eles não tinham nem carteira de motorista nem documento do veículo. Quando indagados pelas autoridades sobre o capacete, a resposta era rápida: "Tá aqui, seu guarda, no cotovelo".
Realmente não dá para entender porque raios alguém usaria um instrumento de segurança no lugar errado. Quando você tem 18 anos, talvez a vontade de impressionar meninas sem capacete seja maior que o discernimento. Quando você é adulto e tem um cargo importante, não tem muitas desculpas. O desembargador, depois do papelão de humilhar os guardas há semanas, viu uma viatura e se apressou a colocá-la no rosto. Segue errado. O ideal é que use a máscara o tempo todo.
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Um estudo americano revelou novamente essa semana que usar máscara diminui muito a carga viral caso você seja infectado. Ou seja: se pegar corona usando uma máscara, pode ter sintomas bem leves, ou até ser assintomático. Além de, claro, diminuir a chance transmitir a outras pessoas caso esteja doente. O estudo saiu nos jornais e foi liderado pelos médicos Monica Gandhi e Eric Goosby, da Universidade da Califórnia, e pelo pesquisador Chris Beyrer, da Universidade Johns Hopkins.
É questão de inteligência mesmo usá-la. Os sobreviventes que voltaram da UTI após serem curados do Covid garantem que a doença, mesmo que não seja sempre letal, não é algo que gostaríamos de ter no currículo. Para citar só uma das consequências nada prazerosas, a perda do olfato pode ser definitiva — o que atrapalharia o paladar para sempre.
Sem máscara e sendo racista
Mas a ignorância do brasileiro em 2020 não se restringe a afrontosa e estúpida insistência em duvidar da eficácia da máscara ou da letalidade do Covid. O noticiário escancara a questão da inteligência de novo nesta sexta (7) ao mostrar o vídeo em que um morador de condomínio ofende um entregador de aplicativo. Achei que ia vomitar de nervoso quando o vi verbalizar ódios tão enraizados.
Ele afirmava que o garoto tinha inveja daquelas casas por não ter tanto dinheiro quanto ele. O garoto pergunta: você conseguiu ou seu pai de te deu? O agressor responde que nasceu rico, como se isso fosse um mérito, e faz o comentário racista: você tem inveja disso aqui, aponta para a cor de seu antebraço. Branco.
Como pode? Aí vem o que sempre acontece quando alguém rico deixa o racismo transbordar: desculpas. É absurdo que alguém tenha coragem de pensar as coisas que esse (coloque aqui o adjetivo) disse. É pior ainda achar que desculpas bastem. E, não posso deixar de notar: o motoqueiro está com a máscara no queixo. O homem que o ofende nem de máscara está. Não é mais grave que ser racista. Eu nem sei mais o que é mais ignorante.
Tem dias em que a gente descobre que está ainda mais atrás. Falta muito para sermos cidadãos decentes, solidários e outras definições de povo. Aquele orgulho de ser brasileiro da propaganda fica tímido agonizando. Esses dias são mais tristes que os outros porque eu não vejo uma saída clara.
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