Internet, por que odeias tanto a Luisa Sonza?
Luciana Bugni
12/09/2020 11h14
Galera está on demais e deveria ficar mais off (Reprodução Instagram)
Ser esposa de um homem famoso, rico, querido por todos tem um custo: aos olhos da sociedade julgadora na internet, você não pode querer ser nada mais que isso. Luisa Sonza, seus cabelos loiros, seu corpo perfeito e seu rebolado que chamam a atenção não deveriam querer nada mais na vida além de ser mulher de Whinderson Nunes, um dos youtubers mais influentes do mundo.
Mas, olha só que ousadia: ela quis se separar dele. Se a internet já estava xingando quando ela era casada, porque nenhuma mulher estaria a altura de seu ídolo, imagina o que acontece quando ela decide que não quer mais ficar com esse homem? Ela quer o quê? Ser uma mulher livre? A internet não permite uma coisa dessas. Mulher tem que ser submissa.
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Mas Luísa é livre. Livre ao ponto de, 4 meses depois de seu divórcio, assumir que está namorando outro cara. E pior, esse cara, Vitão, foi amigo do casal. Tem suspeita de traição no ar. O tribunal da internet julgou e condenou. E sentenciou. E incitou muito ódio. Como ela ousa superar o fim do relacionamento e estar com outro antes do ex? Como ela posta fotos com outro homem passando a mão nela? Ela deveria ser para sempre propriedade de Whin, dizem os rancorosos online cada vez que xingam.
É o ódio que nos move?
"Sou movido a ódio e café", diz um amigo. E você? Tem odiado muita coisa aí? Em tempos atuais, parece que aquilo que odiamos nos une mais do que aquilo que amamos. Basta ver do que você fala mais nos grupos de Whatsapp com seus amigos. Seja sobre o técnico do seu time que você reprova, sobre aquela apresentadora que você detesta — aquilo que odiamos rende mais assunto.
Em 2019, fizemos uma campanha em Universa, que se chama "Por que meu corpo te incomoda?" A repórter Luiza Souto ficou responsável por ler os comentários gordofóbicos, racistas e preconceituosos de várias formas para os atores que dançavam ao som de xingamentos. No fim, eles viravam para a câmera e perguntavam: Por que meu corpo te incomoda? Luiza passou mal ao ler as frases e nós percebemos claramente que o ódio não faz mal só para quem sofre os ataques. Dizer coisas negativas faz mal também para o machista, o racista, o xenofóbico… Mas por que se continua odiando?
"Basicamente, nosso cérebro não mudou muito desde a Idade da Pedra. Ele foi essencialmente desenvolvido para quando vivíamos em grupos pequenos, de 150 a 200 pessoas e, para nossa própria proteção, ele induz que vejamos alguém fora do nosso grupo como uma ameaça", disse Geeta Gandbhir, diretora da série do Discovery Channel "Por que odiamos?", em entrevista para Nathália Geraldo, em 2019.
Faz sentido: nosso cérebro das cavernas acha que Whinderson, um amigo querido, sofre ameaça quando a ex se mostra empoderada. E, assim, todos estão em perigo e precisam atacar a moça. Um sentimento absolutamente primitivo e condenável. Tem trechos do documentário aqui, para quem se interessar por entender esse ciclo e sair dele.
Ela estava solteira, ele estava on e você está onde?
Luiza se separou em maio. Maio faz muito tempo. Sabe o que eu achava em maio? Que teria uma grande festa de aniversário, como faço todos os anos, em setembro. Estamos em setembro e eu tenho medo de sair de casa. Tudo bem, eu também achava em maio que a popularidade do Bolsonaro ia pro saco depois da postura negacionista frente à pandemia. Maio realmente faz muito tempo.
Whinderson já avisou que o pai também tá on desde maio. Está certo, está solteiro, pega quem quiser. Nem ele está preocupado com sua ex e está até fazendo piada sobre o assunto. Enquanto isso, a galera desejando coisas realmente ruins para ela…
Que coisa mais cafona esse machismo todo. Deixa a menina namorar, rebolar, fazer o que quiser. O pai tá on e tá de boa, quem odeia deveria ficar mais off. Porque, que eu saiba, ninguém aqui mora em caverna mais.
A gente pode falar de outras coisas no Instagram.
Sobre a autora
Luciana Bugni é gerente de conteúdo digital dos canais de lifestyle da Discovery. Jornalista, já trabalhou na “Revista AnaMaria”, no “Diário do Grande ABC”, no “Agora São Paulo”, na “Contigo!” e em "Universa", aqui no Uol. Mora também no Instagram: @lubugni
Sobre o Blog
Um olhar esperançoso para atravessar a era digital com um pouco menos de drama. Sororidade e respeito ao próximo caem bem pra todo mundo.