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Luciana Bugni

Como Bolsonaro e Trump: dizer "eu te amo" no 2º encontro é arriscado mesmo

Universa

26/09/2019 04h00

Amar não é ter que ter sempre certeza, já diria Rogério Flausino (Montagem Natália Eiras/ Reprodução)

Diplomatas presentes no Fórum Mundial da ONU contaram ao jornalista Lauro Jardim, do Globo, que o presidente brasileiro Jair Bolsonaro não segurou a emoção e mandou um "I love you" para Donald Trump, em pleno evento.

Em contrapartida, escutou um educado, porém tímido: "Prazer em revê-lo".

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Tenho certeza que essa pequena história (sem comprovação, visto que não há vídeos ou leitura labial que provem ser verdade) te leva para os sombrios anos em que se cursava a sexta ou sétima série e se arriscava em declarações de amor unilaterais. Ai, como é triste sair por aí dizendo para alguém muito especial quais são seus sentimentos mais profundos e, como retorno, receber uma frase fria que pode variar entre:

  • Valeu.
  • Obrigado.
  • Que é isso, magina.
  • Ah.
  • Depois eu te ligo.
  • Meu Uber chegou (eu sei que não tinha Uber quando você estava na sétima série, mas seria uma resposta bem possível)

Dizer eu te amo no início de uma relação é algo que dá frio na barriga mesmo. Quantas e quantas noites, deitadas na cama, dedicamos a pensar se já era o momento de confessar o amor máximo, se desarmar a ponto de soltar essas três palavrinhas. Ou depois de um amorzinho gostoso, com direito a conchinha, quando o eu te amo quase sai de nossa boca, mas a gente engole as sílabas, uma a uma, e fica ali só curtindo a vibe do silêncio?

Tem gente que só dizia eu te amo por mensagem de texto ou e-mail. Hoje, mal se arriscaria a mandar um emoji de coração amarelo no Whatsapp.

E quando finalmente parece que chega o momento perfeito para declarar amor verdadeiro cara a cara, mas falta coragem?

Sabe aquela cena do "Casamento do Meu Melhor Amigo" em que Jules (Julia Roberts) está em um barco com Michael (Dermot Mulroney)? Ele diz que quando se ama alguém você precisa dizer aquilo bem alto. A respiração dela fica ofegante, ela está louca para dizer. E então ele complementa: por que se você não diz, o momento simplesmente passa. Eles estão embaixo de uma ponte, rostos próximos, na distância de um beijo… e o momento passa.

Nem Jules, que foi até Chicago só pra destruir o casamento do melhor amigo e assim conquistá-lo, teve coragem de sair dizendo eu te amo assim, sem calcular os riscos da (não) reciprocidade. É complicado mesmo.

No fim, a gente calcula demais. Tudo o que se quer quando se declara é receber amor de volta. Se rolar um "te amo mais", então, sucesso alcançado. Mas por quê?

Pode ser que o certo seja se desarmar, falar eu te amo quando quiser falar e não se preocupar com o retorno. Não tem problema amar o garoto da sala do lado na sétima série, aquela mulher com quem você está transando há três meses, o cara que você conheceu mês passado no Tinder e ainda não encontrou pessoalmente ou o presidente dos Estados Unidos.

Eu mesma amei o tecladista dos Titãs minha adolescência inteira e só não disse mais eu te amo pessoalmente porque, do palco, ele não ouvia — e isso me deixava meio envergonhada. Devia ter continuado a expressar meu amor livremente, sem me ligar na falta de interesse de meu alvo.

Bolsonaro, você está é coberto de razão. Amar é isso aí mesmo.

via GIPHY

Sobre a autora

Luciana Bugni é gerente de conteúdo digital dos canais de lifestyle da Discovery. Jornalista, já trabalhou na “Revista AnaMaria”, no “Diário do Grande ABC”, no “Agora São Paulo”, na “Contigo!” e em "Universa", aqui no Uol. Mora também no Instagram: @lubugni

Sobre o Blog

Um olhar esperançoso para atravessar a era digital com um pouco menos de drama. Sororidade e respeito ao próximo caem bem pra todo mundo.