Autocuidado não é só passar uns cremes na cara e postar a foto, Barbie
A palavra da moda é autocuidado. A gente fala e já pensa naqueles pepinos bonitos, bem redondinhos ao redor dos olhos. Ou, se sua vida for perfeita como a da Barbie, que eu sigo no Instagram, até os pepinos serão em formato de coração. Autocuidado é fazer um skin care bem feito, deitar numa cama limpa e silenciosa com um roupão bonito e felpudo e repousar as retinas fatigadas sob dois belos corações de pepino. Será?
Eu não tenho uma casa silenciosa. Não tenho nem um roupão desse. Se cortar rodelas de pepino para fazer o "cuidado com a pele" há grandes riscos de enfiá-los no iogurte com sal e comer. Não tenho, então, a menor chance de ser "autocuidadosa"?
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O cuidado consigo mesma, Barbie tenta ensinar desde lá da minha infância, está em pentear os cabelos demoradamente. Fazer hidratação. Depilação. Fazer as unhas no sábado. Usar roupas lindas. Socorro! Porque cuidar de si precisa ter relação com estética? Eu, que não vou passar 3 horas no salão no fim de semana nem amarrada, pareço não ser muito cuidadosa comigo.
Nós que não somos muito parecidas com a Barbie (nem no modo de vida, nem na aparência, pois temos todas as costelas e alguma gordura no entorno delas), podemos cuidar de nós mesmas de maneiras diferente. Não está escrito que você precisa fazer ioga se você odeia ioga. Eu, por acaso, gosto. Mas qualquer hora que você tire para si mesma pode ser repleta de autocuidado. Lógico que fazer esportes é legal, melhora humor e outras coisas. Mas quem decide é você.
Luiza Sahd deu uma bela explicada no assunto nesse texto, que termina com uma frase matadora: o verdadeiro autocuidado não é muito fotogênico. Eu complementaria: se seu autocuidado é muito postável, você está confundindo com vaidade. E vaidade não cuida de ninguém.
Sair para conversar com as amigas é cuidar de si? É, se você estiver com vontade. Dizer não para a amigas e ficar de boas pode ser um cuidado excelente. Arrumar suas roupas do jeito que você quer também. Não fazer nada também — quem me dera, inclusive. O importante é ter algum tempo para si em tempos que nem quando a gente vai ao banheiro está fazendo uma coisa só. Tenho certeza que cuido de mim pelo menos meia hora por dia, quando entro no metrô e vou para o trabalho, ou volto para casa. Celular sem sinal, problemas de fora do vagão, eu apenas leio meus livros. Parece idiota? Pois me renova.
Deixar o celular de lado quando acabar de ler esse texto pode ser um bom jeito de começar. Aí você pode decidir o que vai fazer por si mesma (se vai colocar os pepinos no rosto ou comê-los depois de cortar as fatias). Ou se vai apenas comer um salgadinho de saquinho que não faz nada bem para a saúde, mas é exatamente o que precisa nesse momento — talvez seja melhor não fazer isso todo dia, penso eu.
Eu sei que as crianças estão gritando pela casa. Eu sei que você precisa fazer o jantar. Mas e se nesse momento específico em que você está cortando a cebola, não pensar em mais nada, só em cortar a cebola? Esse é um dos princípios do mindfulness (foco total no que está fazendo). Se você conseguir fazer isso, já quer dizer que está cuidando um pouquinho de si.
Os próximos passos podem ser conversar com as amigas — a Barbie manja desse assunto. Ou ir a uma exposição de arte (aliás, saudades). Viajar para um lugar maravilhoso (tem quem tenha essa sorte). Ou, se nada disso der certo, ver a vida perfeita de uma boneca loira, magra e peituda que vive em Malibu, na Califórnia, pelo Instagram.
Cada um gosta de uma coisa e está tudo certo.
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