Grazi e Caio Castro furando isolamento: quarentenar é um conceito elástico
Hoje (28), é aniversário da Grazi. No mundo que a gente conheceu e que durou até mais ou menos março seria absoutamente normal celebrar com a família. 38 anos, um namorado relativamente novo, uma filha crescendo saudável. Pois Grazi pegou essa bagagem toda e foi quarentenar com mais gente.
Eu sei disso porque ela postou no Instagram essa semana. Um sofá cheio de gente vendo TV, Caio Castro entre eles, e uma legenda que dá a entender que estão entendiados:
Quarentenar, esse verbo intransitivo de 2020, não devia permitir muitos complementos diferentes. Não é muito legal, dizem os especialistas, quarentenar na sua casa, depois na casa de sua mãe, depois na casa de campo. Mas qualquer crítica é rapidamente rebatida com: "mas eu estou me cuidando".
Eu estou me cuidando. Eu não saio de casa há — perdi as contas, mas vai dar quatro meses. E mesmo assim, estou em risco. Meu marido vai ao mercado. Meus enteados transitam entre minha casa e a da mãe entre um mês e outro. Um dia, vacilamos ao abrir a porta para levar o lixo, e a gata saiu correndo, se esfregou na porta do corredor e no tapete de um vizinho, voltou para dentro sob meus gritos, se lambeu e agora está no meu colo. Um risco meio idiota — não queria pegar corona da pata da minha gata. Ah, mas veja bem, o risco é mínimo. Se é mínimo, é porque existe, certo?
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Esses pequenos riscos mínimos aos quais sou submetida me impedem de ver minha mãe ou minha tia. Esse é meu quarentenar. Um pouco covarde, diriam, alguns. Com muita saudade, eu garanto. Mesmo assim, assumo a covardia e não tenho coragem de expor aquelas elegantes senhoras aos mínimos riscos.
Para Grazi, é diferente. Além de ter guarda compartilhada da filha com Cauã Reymond, recebe Caio Castro, que vive postando suas saídas, mesmo antes da flexibilização. É um tal de viajar, fazer esporte, aparecer em foto com médica de restauração capilar, tudo sem máscara. Por mais que Grazi esteja se cuidando, as chances aumentam um pouco quando ampliamos o leque de pessoas com quem temos contato, mesmo com máscara. Sem, então, é um desastre, Caio. O uso de máscara é obrigatório em qualquer rolê.
Entendi melhor tudo isso depois de ler uma excelente matéria do El País que explica como os mecanismos de alerta do corpo humano entram em colapso depois de um tempo. Explicando rapidamente: como estamos há muitos meses sendo privados do lazer e do convívio, o cérebro entra em fadiga e simplesmente não conseguimos mais racionalizar. Aí, se vira alguém e critica sua atitude, ou te acusa de estar colocando os mais velhos em riscos, você não consegue mais ver direito o perigo — um bloqueio. E responde mecanicamente que está se cuidando. Especialmente porque está vendo todo mundo fazer o mesmo, governantes incentivando a abertura. É um colapso na cabeça mesmo.
Tenho certeza de que Caio está se cuidando e de que Grazi sabe da importância de quarentenar. E também acho que a gente merece ter um aniversário feliz perto de quem a gente ama. Mas quarentenar, esse verbo intransitivo, só funciona efetivamente sem tanto complemento. Se tiver que rebater com "estou me cuidando", então, é porque tem algo errado acontecendo.
Cada um sabe de si, meus amigos respondem quando eu volto a falar do assunto. Mas chegamos a um surpreendente 2020 em que o seu saber de si interfere totalmente no dos outros. Ou todo mundo se cuida de verdade e isso passa, ou a gente segue assim, quarentenando cada um de um jeito.
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