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Luciana Bugni

Mayra Cardi expõe ex que a traiu para ter vergonha de voltar com ele

Luciana Bugni

30/06/2020 04h00

Mayra Cardi representa muitas mulheres com vergonha de ir e voltar tantas vezes com um boy lixo (Reprodução: Instagram)

"Por que eu estou contando tudo isso para vocês?", pergunta Mayra Cardi no vídeo de 10 minutos em que denuncia as agressões psicológicas do ex, Arthur Aguiar. "Para criar vergonha na cara e nunca mais voltar. Parar de ser manipulada e parar de ser enganada", ela diz.

A fala nos 10 minutos do vídeo de Mayra que me tocou profundamente. Uma garota linda e bem sucedida que se expõe para se salvar. Mesmo para ela, que está absolutamente acostumada a narrar sua rotina na internet, aquela exposição parece o último artifício para que a palavra dita ganhe força e ela não corra o risco de voltar a acreditar em alguém que, segundo ela, a maltrata. Eu a entendo totalmente.

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Você deve conhecê-los. Mayra Cardi é coach, empresária, influenciadora e já participou do BBB. Ela era casada com Arthur Aguiar, ex-ator da Globo e quase futuro músico. Os dois terminaram há umas semanas e aqui tem um belo resumo dessa história para não-iniciados. Ambos vivem de suas imagens.

O reality show da vida real segue em capítulos diários do Instagram. Arthur fez um vídeo resposta em que se defende da acusação de ser abusador, mas assume as traições entre lágrimas. A repórter Nathália Geraldo fez uma matéria esclarecedora discutindo se o relacionamento pode ou não ser abusivo.

Entre os comportamentos condenáveis de Arthur, estavam traições no puerpério, passar a madrugada vendo séries enquanto a mulher acordava para amamentar — e nunca dar suporte. Se identificou? Por isso a fala de Mayra, que tem 5 milhões de seguidores, me toca. Ela pode alcançar mulheres que estão na mesma situação que ela, presas em relacionamentos desse tipo. "Você ama seu abusador. É por isso que é uma relação abusiva. Você não está amarrada, você não está presa, e você não quer terminar", ela explica. Justamente.

Eu gostaria de ter sabido o que era um relacionamento abusivo muito tempo atrás. Na semana passada, quando eu explicava as fases do ciclo da violência para um colega argentino da Discovery, eu pensei como pode isso estar tão claro na minha cabeça agora, em 2020, mas não ser tão óbvio quando estamos dentro desse ciclo.

Hoje, trabalhando na edição de alguns vídeos do canal ID que contam histórias de mulheres violentadas por seus parceiros e a importância da denúncia, eu pensei outra vez. São histórias de mulheres reais, como eu e você, que acreditaram no conto de fadas até que ele virasse pesadelo. O desfecho é trágico. "É muito mais fácil quando o abusador vem com cara de monstro (…). É mais difícil quando o abusador vem com cara de príncipe", diz Mayra.

Falar publicamente vencendo a vergonha é um ato corajoso. E é, sim, uma maneira de se proteger de si mesma — o mecanismo louco de amar e cogitar retornos com quem não vai mudar e vai continuar ferindo.

Percebo enquanto escrevo esse texto que, mesmo tantos anos depois, após ter lido e ouvido incontáveis depoimentos corajosos, ainda sinto vergonha ao falar abertamente sobre o relacionamento abusivo que vivi. Lembro do rosto de meu irmão, com meu email aberto, enquanto eu mostrava as ameaças e xingamentos que recebia. Ele olhou para mim e perguntou: "Até quando você ia esconder isso?" Foi naquele dia que percebi que não precisava esconder, poderia falar sobre isso e me libertar. Nem precisei de 5 milhões de pessoas me ouvindo. Bastou alguém estar ciente do que estava acontecendo, para que eu, como Mayra, tivesse vergonha de cogitar voltar, marcar um encontro, responder um e-mail que fosse. Isso é libertador.

Se você está em uma situação semelhante, eu digo que falar sobre o que você está vivendo é poderosíssimo. Eu gostaria de, naquele tempo, ter tido acesso à coragem de Mayra e de tantas outras mulheres que li, entrevistei ou com quem conversei depois. Claro que não é fácil sair de uma situação dessa. Há casos em que qualquer movimento pode ser perigoso. Mas é preciso dar o primeiro passo.

Que você tenha coragem e condições de falar sobre isso em voz alta com alguém até dar vergonha de continuar numa situação que não lhe faz bem. Que todo mundo possa se libertar. É difícil, é dolorido, é duríssimo. Mas existe vida depois da relação abusiva e é uma vida maravilhosa. Eu estou aqui para provar.

A gente pode continuar essa conversa no Instagram.

 

 

Sobre a autora

Luciana Bugni é gerente de conteúdo digital dos canais de lifestyle da Discovery. Jornalista, já trabalhou na “Revista AnaMaria”, no “Diário do Grande ABC”, no “Agora São Paulo”, na “Contigo!” e em "Universa", aqui no Uol. Mora também no Instagram: @lubugni

Sobre o Blog

Um olhar esperançoso para atravessar a era digital com um pouco menos de drama. Sororidade e respeito ao próximo caem bem pra todo mundo.