Por que as pessoas são tão obcecadas pelas bailarinas do Faustão?
Universa
11/07/2019 04h00
(Reprodução Instagram)
Para mim, há 30 anos, as Bailarinas do Faustão estavam fazendo a mesma coisa na TV: dançando e sorrindo, sorrindo e dançando, às vezes concordando com a cabeça, caso o apresentador faça alguma pergunta. E sorrindo quando ele interrompe entrevistados, convidados e as próprias colegas.
Sempre foi assim, crescemos com essas dezenas de mulheres envelhecendo e sendo trocadas por mais novas. Algumas se destacaram, outras ficaram no anonimato de ser um sorriso rebolante. Muito alegres, muito solícitas. Sempre assim. Quer dizer, até uns anos atrás.
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Nos últimos anos, aconteceu um fenômeno curioso: se antes elas eram apenas um pano de fundo com gingado na atração dominical, hoje viraram personagens. Têm, além de rostos e belas pernas, nomes que, com uma @ na frente, acumulam milhares de seguidores nas redes.
Intrigada com o assunto e sem saber explicar a popularidade repentina, afinal, elas estiveram sempre ali, resolvi perguntar a opinião de quem realmente entende do assunto: meu colega Chico Barney. Ele pode se dizer (e diz) um pouco responsável pela bailarinazação da mídia, como vemos nesse tweet:
Ele me contou que em 2013 fez um post em seu blog pessoal com o nome das meninas e suas contas no Instagram. Foi um sucesso e um dos pilares da carreira dele. Quer dizer: não foi Chico Barney que fez todo mundo notar as bailarinas e sim as bailarinas que fizeram as pessoas notarem Chico Barney. Uau!
"Acho que dois fatores foram determinantes para a maior notoriedade delas", ele me conta, "um deles foi o sucesso da Dança dos Famosos, cuja seleção de instrutoras virou meio que um Super Bowl das bailarinas. Outro a ascensão do Instagram. O programa é uma vitrine por si só, já que um dos principais motores da rede social é belas figuras, e lá tem de sobra. Virou uma fábrica de web celebridades".
As bailarinas têm até fã-clubes. E Faustão, que não é bobo nem nada, percebeu que isso rende, analisa ele. Por isso tem falado mais com elas e citado seus nomes no ar. No site do programa então, elas viram protagonistas.
Barney realmente faz uma cobertura minuciosa das profissionais da dança. Ele já narrou os saltos que elas deram na carreira, conta como elas rebolam, quanto ganham, quanto não-ganham… e como o interesse de Neymar em algumas delas alavancou esse assunto na internet. É lógico que Neymar tinha que ter algo com isso. Tudo devidamente amplificado pelo Instagram.
"É uma curadoria de perfis interessantes para a dinâmica daquela rede, além da curiosidade natural que elas despertam nas pessoas. Quem são e como pensam aquelas pessoas bonitas e talentosas que participam semanalmente do Domingão? Agora é mais fácil saber", diz Barney.
As meninas são um sucesso absoluto, olha a surpresa, não porque tem corpos absurdamente perfeitos, mas justamente porque é possível saber quem é a pessoa por trás dos glúteos trabalhados. Algumas delas ganham promoções, como fazer inserções com o microfone no programa ou até merchans. E agradecem o apoio nas redes, claro.
Bailarinas não são novidade
O conceito de mulheres dançando seminuas em programas de TV não é novo. Na primeira metade do século passado, as atrizes que se destacavam no teatro de revista eram chamadas de vedetes. Trajando maiôs, dançavam e cantavam. Dercy Gonçalves estrelou um filme chamado "A Grande Vedete", em 1958. Isso foi há 60 anos e já era um assunto antigo.
As chacretes, dançarinas de maiôs brilhantes do "Cassino do Chacrinha", nos anos 70 e 80, faziam o mesmo papel. No "Cocktail", programa apimentado de Miele no SBT, as companheiras de palco do apresentador eram obrigadas a ousadias maiores, como abrir a blusa para deixar as brincadeiras mais divertidas para maiores. A fórmula segue: quanto menos roupa melhor.
É lógico que é triste a gente estar em 2019 e ainda ter que colocar mulheres magras de corpos absolutamente dentro do padrão para entreter o público masculino. Parece algo meio antigo. Mas o fato das pessoas se interessarem por quem são as mulheres por trás do rebolado já faz com que tenhamos motivos para comemorar — será que elas estão sendo menos objetificadas do que os trajes sugerem?
Queria, pra tirar essa dúvida, que elas aparecessem de moletom largo no próximo fim de semana (tá frio mesmo, aposto que elas iam curtir). Que sorrissem só quando tivessem vontade. Que dissessem para o chefe: "Pare de me interromper, isso é manterrupting!". E que, depois, continuassem dançando felizes da vida.
Porque a gente não precisa viver dentro de um mesmo formato a vida inteira, precisa?
Sobre a autora
Luciana Bugni é gerente de conteúdo digital dos canais de lifestyle da Discovery. Jornalista, já trabalhou na “Revista AnaMaria”, no “Diário do Grande ABC”, no “Agora São Paulo”, na “Contigo!” e em "Universa", aqui no Uol. Mora também no Instagram: @lubugni
Sobre o Blog
Um olhar esperançoso para atravessar a era digital com um pouco menos de drama. Sororidade e respeito ao próximo caem bem pra todo mundo.