Por que a vida sexual de Sandy causa tanto alvoroço há 20 anos?
Universa
22/03/2019 04h00
Se a lenda dessa paixão… (Reprodução: Instagram)
Tenho a idade de Sandy. Cantei Maria Chiquinha com ela quando nós duas tínhamos 8 anos — eu em casa, acompanhando um K7 gasto. Quando tínhamos 16 anos, em 1999, ela foi capa da minha revista favorita na época, a Capricho, dizendo que nunca tinha beijado.
Eu não entendia porque ela declararia algo assim. Poucos anos antes, eu morria de vergonha de confessar o BV para os amigos — queria mesmo era beijar logo para me livrar do rótulo.
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Num caminho contrário, Sandy declarava que continuava sendo uma menininha. E as pessoas piravam nisso. Era demais para minha cabeça de estudante.
Desde então, tudo o que diz respeito à vida sexual de Sandy causa alvoroço. Pouco depois de confessar nunca ter beijado, apareceu namorando o colega de elenco, Paulinho Vilhena. Pronto: a história virou e o mistério agora era sua virgindade. Uma polêmica que, aliás, durou até 2008, quando ela se casou com Lucas Lima.
Quanto menos Sandy falava de sua vida sexual, mais todas as pessoas do Brasil falavam de sua vida sexual. A (suposta) virgindade perdurou até seus 25 anos, na noite de núpcias. Na época, eu trabalhava em uma revista de celebridades e a cobertura desse casamento foi praticamente uma operação de guerra. Tudo que envolvia a Sandy mexia muito com as pessoas — a julgar pelas filas do show em comemoração aos 30 anos da dupla, ainda mexe.
Estive na sua formatura da faculdade para escrever matéria sobre isso no começo dos anos 2010. Um circo armado, todos os colegas na expectativa de sua aparição. Sandy não foi ao baile. Sandy não pode nem curtir a própria formatura por que o mundo cairia na cabeça dela perguntando se ela estava grávida, se ela estava bem, se ela tinha feito 69 ou qualquer coisa parecida.
Já casada, a virgindade de Sandy não podia ser um problema. Aí a questão foi uma entrevista para a revista Playboy em 2011, em que ela, supostamente, dizia que era possível sentir prazer anal. Pronto. Todas as manchetes de todos os sites davam a prática como certa. Não é bem assim. O que Sandy disse, na verdade, foi isso aqui:
"Falando de uma forma geral, eu acho que é possível ter prazer anal. Sim, porque é fisiológico. Não é todo mundo. Deve ser a minoria que gosta. Não vou dizer [se faz]. Essa é uma pergunta que me faria pôr em prática minhas aulas de boxe (risos)."
Ou seja, ela não disse não nada disso. E tem o direito de não responder. Você responderia?
Na véspera de alguma das vezes em que a entrevistei, assisti o documentário que vinha junto com seu disco solo, Manuscrito, de 2010. O filme foi dirigido por Fernando Groinstein, ainda começando a fazer sucesso como cineasta e amigo pessoal de Sandy e de Lucas. Em uma das cenas, Sandy aparece chegando no próprio apartamento: uma menina, à época com 20 e poucos anos. Eu tomei um susto. Mesmo acompanhando a garota desde que eu era criança, nunca a tinha visto solta, longe das câmeras. O fato de não saber que estava sendo filmada por um amigo, dentro de seu apartamento, a fez ser ela mesma. Que difícil deve ser viver assim.
Uns anos depois, em uma entrevista que eu até achei divertida pra o Adnet, ela disse que nem a história do "nunca beijei" era verdade. Imagine crescer sob tantos holofotes — nem Bruna Marquezine, que também é famosa desde criança, tem a vida sexual tão perseguida.
O fato de ter ainda o mesmo visual de 20 anos atrás (o gene de sua mãe Noelly, parece não permitir envelhecimento) também contribui para a mítica de Sandy continuar sendo vista como uma menininha.
Mas calma lá, ela tem 36 anos. Ela tem filho. Ela tem um marido espirituoso — já viu as tiradas de Lucas Lima no Twitter? Vocês já pensaram que, por acaso, Sandy é uma pessoa normal? Discreta, como tantas outras que a gente conhece. Ela não vai falar de sexo com o Brasil inteiro só porque o Brasil inteiro quer saber como é a calcinha dela, ou se ela faz ménage.
Deixem Sandy em paz. Devíamos ter feito isso há muito tempo.
Sobre a autora
Luciana Bugni é gerente de conteúdo digital dos canais de lifestyle da Discovery. Jornalista, já trabalhou na “Revista AnaMaria”, no “Diário do Grande ABC”, no “Agora São Paulo”, na “Contigo!” e em "Universa", aqui no Uol. Mora também no Instagram: @lubugni
Sobre o Blog
Um olhar esperançoso para atravessar a era digital com um pouco menos de drama. Sororidade e respeito ao próximo caem bem pra todo mundo.