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Mel Lisboa e polêmica na internet: por que professoras só falam com a mães?

Luciana Bugni

02/07/2020 09h13

Mel LIsboa errou e pediu desculpas: o que a internet quer mais? (Instagram)

Contexto: Mel Lisboa conversou no grupo da escola de sua filha. A professora, como quase todas as professoras que a gente conhece, se dirigia aos pais dos alunos como mamães. Mel questionou porque ela fazia isso, já que havia pais também no grupo. A professora explicava que a maioria das pessoas que a respondem são mães. Mel argumentava acertadamente que essa mentalidade deveria mudar. Fim.

Quer dizer, não foi fim, porque Mel postou essa conversa no Instagram, certamente com a intenção de alertar mais gente e questionar. E disse que fazer esse tipo de cobrança era exaustivo. O post viralizou e acabou expondo a professora. E isso pegou mal. Menos de 24 horas depois, o nome de Mel era o assunto mais comentado no Twitter. Nos posts, as pessoas argumentavam acertadamente que exaustivo é ser professor no país em tempos de pandemia (e sempre). E pediam que Mel fosse mais solidária à professora de sua filha.

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No Instagram de Mel, uma mensagem dizendo que pensou melhor, apagou o post, pediu desculpas no grupo e diretamente para a professora, e que havia aprendido que essa cobrança devia ser feita apenas no privado. Foi errado mesmo. Que lindo é ver gente capaz de reavaliar as próprias atitudes e pedir desculpas em vez de tomar uma postura ainda mais bélica.

Ninguém obviamente leu o que Mel disse e continuam descendo a lenha na atriz por algo que ela já percebeu que fez errado e pediu desculpas para os envolvidos. E mais: se critica Mel Lisboa por não ter sororidade à exausta professora de sua filha, sem pensar no contexto que fez a própria atriz fazer isso em público da maneira que fez. Poxa, estamos isolados, tudo é exaustivo e a linha entre o que devemos ou não postar é ainda mais tênue nesses tempos em que nossas poucas conversas são via Whatsapp/Instagram. Às vezes a gente erra. E pede desculpas.

Sou totalmente favorável à causa dos professores. A reivenção em tempos de pandemia é desgastante para todos, mas ainda mais aos professores comprometidos verdadeiramente com a educação, tentando achar um jeito de prender a atenção dos alunos no mar sem fim de distrações da internet. No caso dos professores particulares, muitas vezes trabalhando sob o olhar e críticas dos pais das crianças, temendo reclamações e perda de empregos. Nada disso é fácil.

A resposta para a pergunta de Mel Lisboa está própria pergunta. Porque os pais não são citados pelas professoras? Porque eles não respondem. Meu marido outro dia reclamou disso aqui em casa: ficava constrangido de responder porque o tratamento era sempre feito às mães. A professora de nosso filho não ouviu obviamente o que ele disse, pois não mora na nossa casa. Então mantém a comunicação comigo. Enquanto os pais não tomarem efetivamente e em massa as rédeas dessa comunicação, como as professoras vão perceber que eles também estão interessados?

"Está constrangido?", eu disse para o pai de meu filho, "Conversa com ela, responde no aplicativo e assina, explica com jeitinho todo santo dia que você não é a mamãe, é o papai". Ela talvez mude o tratamento. Ou talvez não mude, porque o que mais tem nesse país é criança sem pai, ou mesmo que tenha pai em cartório não são homens envolvidos e preocupados com a educação como o pai do meu filho e o pai dos filhos de Mel (duvido que Felipe Roseno seja menos do que um ótimo pai). As professoras não estão acostumadas a ver a interação dos homens e isso não é culpa delas. É dos homens mesmo que nem quando se interessam, se interessam.

Eu entendo Mel. A partir do momento em que a professora usa o vocativo "papais e mamães", talvez incentive também os pais a responderem. Participarem. Serem pais. Entendo o ímpeto que nos faz reclamar de algo que não faz sentido. Entendo a intenção de cobrar de um educador uma postura que julgamos correta. Mas estamos em tempos de tanta transformação, de tanto cansaço, de tanta exposição. E, quando estamos exaustas de tentar ensinar algo, os homens também podem fazê-lo, com esse charme irresístivel de ser um bom pai só porque está fazendo o mínimo (emoji de olhinhos virando para cima).

A gente está tão firme na tentativa de provar nossos pontos nessa acertada e exaustiva luta por direitos iguais que nem consegue mais ver as lutas que não são nossas. Estou com a professora, mas estou com Mel também. No mais, eles que lutem. Vamos juntas.

A gente pode continuar a conversa no Instagram.

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Sobre a autora

Luciana Bugni é gerente de conteúdo digital dos canais de lifestyle da Discovery. Jornalista, já trabalhou na “Revista AnaMaria”, no “Diário do Grande ABC”, no “Agora São Paulo”, na “Contigo!” e em "Universa", aqui no Uol. Mora também no Instagram: @lubugni

Sobre o Blog

Um olhar esperançoso para atravessar a era digital com um pouco menos de drama. Sororidade e respeito ao próximo caem bem pra todo mundo.


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