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Luciana Bugni

7 provas de que a tecnologia pode te transformar em um escravo

Luciana Bugni

21/11/2017 08h00

Parece alarmante mas já está acontecendo… (Foto: iStock)

Você já ouviu a máxima de que um traficante nunca fica chapado de sua própria mercadoria? Pois os técnicos em informática e tecnologia do Vale do Silício, local onde é a sede do Google, nos EUA, estão seguindo essa filosofia. De acordo com uma matéria do jornal inglês "The Guardian", os bam-bam-bans (para você ter uma ideia do calibre profissional dos caras, entre eles está o inventor do botão curtir e o inventor do scroll para ver novidades nas redes sociais) estão nadando contra a própria corrente e fugindo da tecnologia como o internauta foge de spam. O motivo é um pouco assustador: o uso que fazemos da internet está nos deixando viciados, psicologicamente suscetíveis, lentos, distraídos e dominados. Leah Pearlman, gerente de produto do Facebook e um dos profissionais que questiona essa dinâmica, afirma que a geração que está com 30 e poucos anos hoje é a última que recorda como as coisas eram antes. "Só nós lembramos como é viver num mundo em que você corre atrás de um telefone que toca grudado na parede. Por isso, precisamos falar disso", ele diz.

Abaixo, alguns motivos citados na matéria para repensarmos o uso que fazemos das redes no celular. E nos salvar, enquanto é tempo, de uma alarmante escravidão digital em que só pensamos, consumimos e fazemos o que os algoritmos sugerem. Parece coisa de ficção científica, "é tão Black Mirror", mas é a nossa vida. Já está acontecendo.

  1. A tecnologia foi pensada para incentivar a dependência entre adolescentes

Como sabemos, a tecnologia dessas companhias não é sempre genérica: ela pode ser algoritmicamente confeccionada para cada pessoa. Não é por acaso que sua timeline mostra mais postagens de pessoas que são favoráveis aos mesmo políticos que você, por exemplo. Você vê o que você curte. Um relatório interno do Facebook revelou que a empresa identifica os jovens que se sentem inseguros, desvalorizados e que precisam de um incentivo. Com essa análise, fazem um modelo de que botões ativar para cada pessoa que usa a rede. Em outras palavras: eles estão dentro do cérebro do adolescente ajudando a formar a personalidade dele de acordo com o interesse dos anunciantes. Pesado, hein?

  1. Os alertas vermelhinhos te deixam psicologicamente suscetível

Cada vez que você abre a tela do seu celular, vê alertas (aquelas pequenas bolinhas vermelhas na lateral inferior direita de cada ícone de app). Esse design explora a mesma psicologia que faz as casas de aposta tornarem as pessoas compulsivas: recompensas variadas. Quando você abre esses iconezinhos vermelhos, não sabe se vai descobrir uma marcação em post interessante, uma memória sua, likes variados ou nada. E, olha só, a possibilidade de se desapontar faz isso ficar compulsivo. O mesmo vale para o scroll com o polegar, que atualiza as novidades. É a história do caça-níquel: você não sabe o que vem na sequência e isso faz querer ver mais, mais e mais.

  1. Os inventores afirmam que não são boas coisas

O próprio Loren Brichter, inventor do "pull to refresh", essa técnica em que você puxa a tela do celular com o polegar para ver novidades, diz que se arrepende das partes negativas de suas invenções. "Os smartphones são ferramentas úteis, mas viciam. 'Pull to refresh' vicia. Twitter vicia. Não são coisas boas. Quando eu estava trabalhando nelas, não era maduro o suficiente para pensar nisso. Não estou dizendo que sou maduro agora, mas sou um pouco mais e me arrependo", disse.

  1. Sua produtividade cai muito

Em média, as pessoas tocam o celular por dia 2617 vezes. Se você for uma pessoa que usa muito a internet móvel, pode passar de 5 mil vezes. Divida isso pelo número de segundos que tem seu dia e pense em quantas coisas está deixando de fazer em cada um desses momentos…

  1. Você vive distraído

Sabe-se que além de viciar os usuários, a tecnologia faz com que estejamos sempre com atenção parcial nas coisas. Isso limita gravemente a habilidade de focar em qualquer coisa. E, presta atenção nessa parte: possivelmente está diminuindo o nosso QI. Um estudo recente mostrou que a mera presença de um smartphone no seu ambiente, mesmo que desligado, deixa você distraído pensando no que pode estar perdendo! Isso atrapalha sua capacidade cognitiva e deixa todo mundo distraído o tempo todo.

  1. Você passa a ser controlado pelos apps

É compulsivo checar as redes com frequência. E é comum dar aquela olhadinha rápida nas novidades e perceber que, uma hora depois, você ainda está ali navegando. Quem nunca? "Sentimentos de tédio, solidão, frustração, confusão e indecisão instigam uma tristezinha ou irritação. Isso faz com que a pessoa busque instantaneamente ver outra coisa para anular aquela sensação negativa", diz Nir Eyal, consultor da indústria tecnológica que ensina técnicas que desenvolveu estudando de perto como as gigantes do Vale do Silício operam. Em outras palavras, você vê na timeline coisas que te irritam (seja por serem contrárias ao que você pensa ou por inveja mesmo) e coisas que te deixam muito feliz. E assim sucessivamente. Nada disso é por acaso.

  1. Nós perdemos o livre-arbítrio

Esse mercado acaba com habilidades como lembrar, ter discernimento e tomar decisões por nós mesmos. Tristan Harris, um empregado do Google que se tornou um crítico ferrenho da indústria tecnológica, garante que nossas mentes já são hackeadas por esse sistema. "Nossas escolhas não são livres como a gente acha que elas são. A maioria das pessoas não têm noção das maneiras invisíveis como algumas pessoas no Vale do Silício estão moldando a vida delas", ele diz. E se Apple, Facebook, Google, Twitter, Instagram e Snapchat estão levando a nossa capacidade de controlar nossas próprias mentes, será que chegaremos a um ponto onde a democracia não terá mais função existir?", pergunta a matéria. Seremos capazes de reconhecer quando isso acontecer? E se não formos, como saberemos se já não está acontecendo?

Sobre a autora

Luciana Bugni é gerente de conteúdo digital dos canais de lifestyle da Discovery. Jornalista, já trabalhou na “Revista AnaMaria”, no “Diário do Grande ABC”, no “Agora São Paulo”, na “Contigo!” e em "Universa", aqui no Uol. Mora também no Instagram: @lubugni

Sobre o Blog

Um olhar esperançoso para atravessar a era digital com um pouco menos de drama. Sororidade e respeito ao próximo caem bem pra todo mundo.