Feminismo: ainda dá tempo de mudar de ideia
Dia desses, as lembranças do Facebook cumpriram mais uma vez seu propósito, que é me envergonhar de mim mesma. Lá vem a notificação bater à minha porta e mostrar como eu era ridícula: "Não tem nada mais chato que feminista". Tomei um susto. Será que tinham hackeado meu Facebook para vomitar mensagens de ódio? Não, gente, era eu mesma, há cinco anos, falando do que eu nem conhecia.
Depois de ficar um tempo estarrecida, lembrei da situação. A postagem não tem desculpa, mas vale buscar os porquês. Na época, tinha feito uma matéria de moda sobre calças brancas. E, à luz das frases machistas que a gente ouve sobre o assunto ("Calça branca deixa qualquer mulher gostosa", "Deus abençoe as calças brancas" ou a pérola da tosquice vulgar: "Calça branca eu comia até no varal"), eu lembrei de um acontecimento bem triste. Uma amiga me contou que, na delegacia, após ter sofrido um estupro, o policial encaminhou as roupas que ela estava usando para o descarte e disse: "Mais uma calça branca. A maioria das vítimas de estupro está usando uma calça dessa cor". Conversei com policiais sobre o assunto e me senti na obrigação de alertar as mulheres sobre isso na matéria de moda. Erro meu, porque ao fazer isso, de certa forma, pareceu que eu estava responsabilizando as vítimas pelo estupro. Por outro lado, por ter vivido a situação da minha amiga tão de perto, achei que era importante contar que isso acontece para mais mulheres.
Pois bem. Quando a matéria saiu, choveu crítica. Foi meio violento. Como internet é terra para todo mundo falar o que quiser e ouvir o que não quer, a matéria viralizou e meus amigos vinham falar comigo variando entre preocupados e rindo da minha cara: "mas estão te xingando muito…" Durou semanas e um dia eu me enchi e escrevi numa rede social que as feministas eram chatas. Rebati a agressão agredindo – tudo errado!
Aí vieram as memórias do Facebook para me mostrar que depois de algum tempo odiando as feministas que estavam me atacando, percebi que a reclamação delas era válida e a errada era eu. Mulher pode usar o que quiser na rua e a culpa sempre vai ser do estuprador. Parece óbvio agora, não?
E eu, depois de conversar muito com muitas feministas maravilhosas, percebi que eu também era uma. E que sim, é chato lidar com o novo, enquanto estão batendo na sua porta e dizendo que você errou. Mas em cinco anos mudamos o suficiente como sociedade para perceber que feminismo é igualdade. E que a gente pode sair de calça branca sim, assim como os homens podem. Mudar de opinião é lindo.
Aliás, vou escrever no Facebook: não tem nada mais chato do que não poder mudar de opinião.
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