A maternidade é totalmente diferente de seja lá o que você idealizou
A gente é treinada para ser mãe desde que é criança. Se tivessem nos dado martelos e blocos de brinquedo, talvez não tivéssemos passado a infância idealizando como seria quando tivéssemos filhos. Mas não, deram várias bonecas. Já viu alguém dizendo "você deixou esse carrinho esquecido na casa da vó, agora ele está sem gasolina chorando"? Pois eu já vi dizerem isso para as meninas que abandonam suas bonecas em algum canto. "Ela estava morrendo de fomeeeee!" E lá vai a garota correndo atrás da boneca que quase morreu de fome por sua culpa. A gente cresce com a obrigação de ser uma boa mãe mesmo que ser mãe sequer tenha passado pela nossa cabeça.
E então, depois de uma vida inteira idealizando esse momento, você finalmente vira mãe. E percebe: é tudo diferente. Não tem nem uma coisinha como pensou. Por isso, se você é aquela pessoa que está sentada na pracinha julgando o comportamento das outras mães, apenas pare. Com o seu, você faz do seu jeitinho. Já basta nossa própria expectativa, não dá para lidar com a das colegas.
Estou pagando a minha língua de várias maneiras. Achava que iria arrasar no quesito saúde. Sei. Em seis meses o bebê já teve duas ou três gripes – e eu também. O inalador virou parte da paisagem na minha sala. Cada vez que olho para a maquininha, penso: que tipo de mãe eu sou?
E a pediatra que disse que era um ótimo momento para começar a falar um segundo idioma com a criança. Como ele não sabe nenhum, vai aprendendo ao mesmo tempo. Comecei animada. E até agora, em vez de só me comunicar assim, como ela sugeriu, eu disse apenas umas quatro frases em inglês pra esse menino. Sendo que uma é hello. Eu não consigo ensiná-lo a dormir mais de uma hora e meia seguida, vou ensinar línguas? Ele que pague a escola de idiomas quando começar a trabalhar!
Dormir, aliás, é outra questão a ser trabalhada. Em mim. Já li livros sobre o assunto e quase dei palestras sobre a maneira correta de ensinar um ser humano de 50 cm a dormir. Era só fazer um ritual xis por dez dias, depois mais dez e pronto. Não passei do segundo dia e o sucesso nessa operação está MUITO longe de acontecer. Se falhei nas lições de como pegar no sono, que é uma coisa fisiológica, como é que vou ensinar bons modos pra essa criança, meu Deus…
Outra coisa é que agora a onda é o próprio bebê comer com as mãos. O BLW (Baby Leads Weaning ou Bebê Lidera o Desmame) é um método moderninho – ou primata – de dar mais autonomia a criança no quesito alimentação. Comecei na semana passada. Ele coloca a fruta na boca com as mãozinhas, alterna com o pé na boca, coloca a minha mão na boca, coloca fruta na minha mão, esfrega a fruta no pé dele, coloca de novo na boca, esfrega a fruta na orelha, cabelo e finalmente nas sobrancelhas. Aí sorri satisfeito. Descobri: os bebês tem o paladar localizado na sobrancelha! Eu o coloco dentro de um balde toda vez que acaba a refeição. E coloco toda a roupa dele e a minha e a do pai dele para lavar. Uma amiga disse: "dá logo a comida com colher que você não vai achar fiapo de manga no seu antebraço no dia seguinte, quando chegar no trabalho…" Outro dia achei um pedaço de melancia no meu bolso. Se eu vou conseguir ir até o final com o método quando, supostamente, meu filho comerá de tudo sozinho? Vou tentar. Talvez eu desista, vai saber. Vocês vão me julgar por isso?
Pensem bem… uma boneca sente tanta fome quanto um carrinho de brinquedo: nenhuma. Parem já com essa cobrança cruel e deixem a gente livre pra ser mãe do nosso jeito desde a infância. Grata.
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