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Luciana Bugni

Como é difícil aceitar que não tenho mais idade para shows de rock

Luciana Bugni

23/03/2018 05h00

"Se eu tenho idade para fazer shows de rock, você tem idade para ir em um", diz o Eddie Vedder que mora no meu coração (Foto: Reprodução Instagram)

É lógico que eu quero ver um show do Red Hot Chili Peppers, que nunca vi. E também queria ver aquelas bandas de nomes criativos que tocam às 11h da manhã. Plutão Já Foi Planeta é uma graça. Nem Liminha Ouviu merece a minha audiência só pelo nome (mas o som também transporta para os anos 80). E eu adoro a Mallu Magalhães (me julguem, gosto é gosto).

Mas como é que eu vou ao LollaPalooza ver 12h seguidas de show? Andar de um palco para o outro? Quando o Flea encostar naquele baixo, eu já vou estar morta. Com dor nas costas. Nos pés. Vontade de fazer xixi de novo. Vontade de tomar outra cerveja para ter ainda mais vontade de fazer xixi de novo. Aí não vou ver o show da banda mais importante do dia porque estarei sentada na grama, largada, pensando como é que vou sair de Interlagos à meia-noite e chegar em casa para cuidar do meu filho. Uma amiga disse: "não aguento nem o caminho da estação de trem até o autódromo…" Que triste admitir, mas eu não tenho mais idade para festival de música. Show de rock me pinça o ciático. Fim da linha para mim.

Lógico que não ter idade para esse tipo de atividade não tem nada a ver com a minha carteira de identidade. Tem muita gente que é mais velha e já comprou esses ingressos no ano passado, no pique, para os três dias. Tem gente que é mais nova e nunca pisou em um estádio ou autódromo para ver show algum. Mas então por que eu sofro tanto de perder um evento como esse?

Não é o fim do mundo não ir ao show de uma atração internacional que vem ao Brasil a cada três ou cinco anos. Nem tenho dinheiro para ver esses shows agora. Nem tenho tempo de cuidar da complicada logística. E pior: não tenho três dias off para me recuperar do impacto dessas horas em pé pulando. Se eu mudar de ideia, pronto: logo mais eles pintam por aí de novo. Mas e se não vierem mais? Foi o que me empurrou para o show dos Rolling Stones de novo em 2016 (vai que é a última vez, a banda tem 50 anos…). Foi o que me fez sair de casa para ver o Paul McCartney no ano passado – e se, de repente, o Sir decide que o Brasil é muito longe?

Quando dei por mim, já estava no site do festival conferindo line up. Não posso perder um show do Pearl Jam em São Paulo. Nunca faltei em nenhum antes. Ainda vou ver O Terno à tarde. David Byrne, National, Imagine Dragons. Eu tenho que ir! O fogo no rabo toma conta de mim. Depois eu vejo como faço para pagar o ingresso. Para chegar lá, ir embora. E para descansar as pernas. Eu tenho idade para ir a um festival, sim!

Clico finalmente em comprar e descubro que os ingressos para sábado estão esgotados. Sinto um pouquinho de decepção com um grande alívio. Eu vou ter que ver na TV, sentada no sofá, comendo chocolates. Pertinho do banheiro, se for o caso de tomar umas cervejas. Preciso comprar uns petiscos quando voltar do trabalho. Esse fim de semana vai ser demais. "E ainda vai chover", diz um colega de trabalho. Ufa.

Obrigado Rio! 🙌🏽🇧🇷

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Ver o set list dos shows que perdi é me matar aos poucos

Sobre a autora

Luciana Bugni é gerente de conteúdo digital dos canais de lifestyle da Discovery. Jornalista, já trabalhou na “Revista AnaMaria”, no “Diário do Grande ABC”, no “Agora São Paulo”, na “Contigo!” e em "Universa", aqui no Uol. Mora também no Instagram: @lubugni

Sobre o Blog

Um olhar esperançoso para atravessar a era digital com um pouco menos de drama. Sororidade e respeito ao próximo caem bem pra todo mundo.