Topo

Luciana Bugni

Por que a gente não se telefona mais?

Luciana Bugni

06/10/2017 08h00

ai, o tempo que a gente se telefonava (Foto: Istock)

Um jornalista espanhol fez um teste e ficou um mês sem Whatsapp. Depois, instalou o aplicativo novamente e passou a fazer o que ele chamou de uso inteligente: menos mensagens inúteis, menos tempo na tela e mais ligações quando o assunto é importante. Eu tentei fazer o mesmo teste e duas horas depois estava de volta ao Whatsapp. Ufa, respirei aliviada, tá tudo bem. Como é que me deixei viciar nesse negócio? Grupo da ioga, grupo da família, grupo da família do meu marido, grupo dos amigos de colégio, grupo dos amigos de bar, grupo do pessoal da faculdade, grupo de amigas que moram em outro estado, grupo com amigo que mora na gringa… eu não sei nem contar quantos grupos tenho para dizer muita coisa inútil ou o que seria muito mais profundo em uma ligação ou num encontro ao vivo – e que nos custaria menos tempo, vai saber.

No dia do meu aniversário,  conversando com uma amiga que ligou para me parabenizar, fiquei pensando no quanto isso é legal. As pessoas arrumam um tempo para telefonar. E a gente arruma tempo para atender sem fazer aquela cara feia de "afe, não podia ter mandado uma mensagem?". Fizemos planos para o fim de semana, falamos de rotina, de filhos, de sentimentos profundos, um monte de conversa que não seria fácil de digitar… No meio desse blablablá, ela me contou coisas que eu nem imaginava e eu perguntei se não devíamos nos telefonar mais. Eu e ela nos falamos quase todos os dias há 20 anos, mas nos últimos, três, talvez quatro, a gente pouco se telefona. São dezenas de mensagens diárias, no grupo, no privado, marcações em links do Facebook que ela lê e quer que eu leia, fotos do Instagram que eu vi e quero que ela veja, mas aquele bom e velho "alô, como você está?" ficou para trás. Ela concordou, a gente devia se ligar mais. Mas logo depois percebemos: que horas?

Não estou reclamando da comunicação moderna, não, inclusive adoro mandar links. Mas eu sou do tempo em que a gente se telefonava, como a cantora Blubell. Meu celular está sempre grudadinho em mim, mas nunca mais toca. Tudo bem, não dá tempo de ficar ligando. Nem de ficar atendendo na hora em que a pessoa quer falar. Mas será que em alguns casos não seria mais rápido do que mandar tanta mensagem?

Eu não sei dizer se é saudosismo, se é carência mesmo ou se é essa névoa trazida por tempos tão sombrios que deixa a gente esquisita. E dá uma vontade de ouvir a voz dos amigos… você não tem?

Sobre a autora

Luciana Bugni é gerente de conteúdo digital dos canais de lifestyle da Discovery. Jornalista, já trabalhou na “Revista AnaMaria”, no “Diário do Grande ABC”, no “Agora São Paulo”, na “Contigo!” e em "Universa", aqui no Uol. Mora também no Instagram: @lubugni

Sobre o Blog

Um olhar esperançoso para atravessar a era digital com um pouco menos de drama. Sororidade e respeito ao próximo caem bem pra todo mundo.